Cidade em chamas: Piracicaba entra em emergência para risco de incêndio neste sábado, aponta Defesa Civil do Estado de SP; prefeitura deixou de investir R$ 1,27 milhão na área entre 2021 e 2023

O risco de incêndio para Piracicaba durante esta semana, de segunda à sexta-feira, oscila entre os níveis de alerta e alto, informa a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil – em maio deste ano, o Governo Federal já tinha listado Piracicaba para riscos de desastres ambientais. Na escala ascendente entre baixo, alto, alerta e emergência, a previsão publicada pelo mesmo órgão nesta segunda, dia 26, para a cidade é que no sábado, dia 31, Piracicaba entre em status de emergência – o pior nível medido. O cenário se soma à ausência de previsão de chuvas e com temperatura máxima próxima aos 30oC a partir desta quinta, dia 29. Nos três primeiros anos do mandato de Luciano Almeida (PP), a prefeitura destinou à Defesa Civil da cidade parcos R$ 4,10 milhões e R$ 1,27 milhão ficaram em caixa, precarizando o órgão municipal de segurança pública – estes dados constam no Relatório Resumido de Execução Orçamentária do Tesouro Nacional (Siconfi), base abastecida pela própria administração.

Conforme o Mapa de Risco de Incêndio do Núcleo de Gerenciamento de Emergências (veja mapas diários abaixo), a mancha vermelha (alerta) e roxa (emergência) se ampliam em todo o Estado de SP entre quinta, dia 29, e sexta, dia 30. No sábado, 31, a pior situação para incêndio toma quase todo o Estado com exceção do litoral paulista. A ferramenta tecnológica de previsão para cinco dias é um software que funciona 24 horas a partir de algoritmos com compilação de dados sobre elementos como o nível de chuva dos últimos dias, cobertura vegetal, umidade do ar e do solo, temperatura e velocidade do vento.

A explicação para o risco elevado de incêndios florestais é a ausência de chuva e a baixa umidade relativa do ar em todo território paulista. “O Estado de São Paulo possui um outono e inverno com climatologia de tempo mais seco, com tendência para que a umidade relativa do ar diminua significativamente, atingindo níveis mais críticos diariamente, ou seja, valores abaixo dos 30% em praticamente todas as áreas monitoradas”, explica Willian Minhoto, Meteorologista da Defesa Civil.



‘CULPADOS’

A situação caótica de focos de incêndio da Amazônia ao Estado de SP reuniu a alta cúpula do Governo Federal em pleno domingo, dia 25, na sede do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), em Brasília, informa a Agência Brasil. A ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo trabalha com a suspeita de uma ação criminosa similar ao 'dia do fogo', numa referência ao 10 de agosto de 2019, quando uma ação orquestrada de criminosos ateou fogo em mais de 470 propriedades rurais. “Há uma forte suspeita de que está acontecendo de novo”, afirmou.

Na mesma linha, segundo Laura Braga, do portal Metrópoles, o presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Rodrigo Agostinho, declarou que os incêndios que atingem o Estado de São Paulo podem ter sido organizados. Segundo ele, os focos aconteceram praticamente no mesmo horário.

Por isso, Agostinho acionou a PF (Polícia Federal) para investigar os focos de incêndio no Estado. “Quase todo incêndio no Brasil é criminoso. Não temos incêndio espontâneo e são raros os casos de acidente, como um caminhão que pegou fogo, ou uma queda de um cabo de alta tensão. Em São Paulo, há uma desconfiança de que tudo foi organizado, pois os focos aconteceram praticamente no mesmo horário”, disse o presidente do Ibama. O presidente Lula (PT) também esteve no PrevFogo no domingo e “assegurou recursos e ações do governo federal para debelar as chamas”, diz a Agência Brasil.

‘EM TERRAS TUPINIQUINS’

O trato com a Defesa Civil em Piracicaba já não segue o mesmo tom dos governos federal e estadual. A vereadora Silvia Morales (PV/Mandato Coletivo), presidenta da recém-criada Frente Parlamentar de Combate à Crise Climática, relata que o órgão local tem apenas três funcionários. Conforme dados prestados pela prefeitura ao Tesouro Nacional (Siconfi), nos três primeiros anos da administração de Luciano Almeida sobraram no caixa da Defesa Civil R$ 1,27 milhão de um volume total disponibilizado no período aos R$ 4,10 milhões. Neste ano, até junho (metade do ano), a prefeitura só usou 33% do caixa da Defesa, restando ainda R$ 1,13 milhão.

“Está claro para nós que a atual administração não vê como prioridade a questão ambiental, climática e a gestão de risco de desastres, o que pode ser notado pela falta de investimento de recursos públicos na Defesa Civil, que conta atualmente com uma equipe extremamente reduzida, composta por apenas três funcionários”, analisa e relata Silvia Morales.

A Frente Parlamentar de Combate à Crise Climática foi aprovada na sessão camarária de quinta, dia 22, e falta apenas mais uma etapa para sua formalização: a assinatura da Mesa Diretora ao Projeto de Decreto do Legislativo – ou seja, a canetada do presidente Wagnão Oliveira (PSD). Em breve, o colegiado estará atuante, podendo contribuir com debates à elaboração de propostas para a garantia dos direitos e a participação social das pessoas, dos grupos e das populações mais vulneráveis aos efeitos negativos da crise climática.

A redação questionou a assessoria de imprensa da administração bem como o prefeito, mas nenhum esclarecimento foi prestado.

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