Vereador usa tempo de forma irregular para exibir vídeo sobre empreendimento imobiliário; caso Boyes movimentou o debate na sessão camarária

Opiniões contra e a favor ao empreendimento imobiliário Boulevard Boyes ficaram translúcidas na manifestação de alguns da vereança, que debateu o assunto na sessão camarária da última quinta, dia 15. Provocados por um requerimento à prefeitura de autoria de Paulo Campos (Podemos) – com o intuito de conhecer em que pé está o processo administrativo para liberação (ou não) da obra no antigo conjunto fabril – as opiniões em favor do projeto tiveram um ponto em comum: o abandono da estrutura à beira-rio – mas há aqui a falta de reconhecimento do fato do abandono ser de responsabilidade dos proprietários. 

O que saiu fora da curva foi o pedido de Campos aos colegas para a concessão dos tempos individuais de fala de cada um a fim de exibir um vídeo comercial produzido pela empresa de arquitetura contratada pelo Boulevard. Rai de Almeida (PT) destacou a abertura de precedente no fato e a ausência de legalidade no uso do tempo.

Novo projeto foi recusado pelo Condephaat: a área integra tombamento estadual
(foto/crédito: memorial de intervenção/Boulevard Boyes)

'CAIXA GORDO'

O vereador de extrema direita Fabricio Polezi (PL) entrou na discussão e rotulou por obsessão o objetivo do Movimento Salve a Boyes, que tem como foco fazer do local um espaço público a impedir os impactos diversos dos arranha-céus. Polezi ainda entrou na seara de números e estimou R$ 20 milhões para a prefeitura oferecer a estrutura aos cidadãos – metade para comprar o complexo fabril e outra metade para recuperação e investimentos; vale destacar a baixa cifra frente ao ‘caixa gordo’ da gestão Luciano Almeida (PP) com sobra de R$ 500 milhões em 2023. 

Zezinho Pereira (UB) também lamentou o abandono. “A prefeitura tem orçamento gigantesco e poderia comprar [a fábrica Boyes] para ser participativo com a população”, disse, concluído que, com torres residenciais, haverá exclusão do acesso à população.  

'PAREI NA CONTRAMÃO'

Ainda sem entender a complexidade da questão, Campos afirmou acreditar “estar na contramão do mundo”, o que foi corroborado com “vocês estão na contramão do mundo”, dito pela vereadora Silvia Morales (PV/Mandato Coletivo), crítica ao empreendimento imobiliário. “A manutenção e conservação de propriedade privada é do proprietário e com responsabilidade do poder público em cobrar. Fazemos o que com o Plano Diretor, leis ambientais, tombamento? Rasga tudo e joga fora? Ainda bem que existe a resistência, pessoas preocupadas com ambiente”, comentou Silvia lembrando o uso público do Engenho Central, dívida milionária dos proprietários com IPTU, existência de processo administrativo e complexo ser tombado em 2004. Outros na contramão foram Laércio Trevisan Jr. (PL) e Josef Borges (PP), líder de governo na Câmara.

FINAL FELIZ

Rai de Almeida (PT) também deu uma excelente contribuição ao debate. “O Movimento Salve a Boyes não é contrário ao uso do espaço, mas ‘salve’ como foco no patrimônio histórico e cultural. Piracicaba tem vocação para turismo, e turista vem para ver a construção de prédio? Ver estacionamento na Rua do Porto? Quem abandonou o espaço? Quem adquiriu? Abandonou porque queria que fosse ao chão. A atribuição de cuidar do espaço é do proprietário. Há custos [do empreendimento a serem analisados] à sociedade, meio ambiente, saneamento básico, patrimônio histórico e cultural.” 

Por fim, o requerimento de Campos foi aprovado e em 15 dias as respostas sobre o ‘andar da carruagem’ do Boulevard na prefeitura será de conhecimento público – fato comemorado pelos críticos ao projeto imobiliário, que conta com a negativa no Estado de SP via Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico).

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