‘Sova eleitoral’: prefeito fica na rabeira no 1º turno e perde mais de 80 mil votos no comparativo com o ano de sua eleição; Luciano Almeida (PP) assume ter falhado em conseguir conquistar corações e reflete sobre a necessidade de sorrir mais

(foto/crédito: reprodução/TSE)

O resultado do 1º turno das Eleições Municipais foi uma ‘sova eleitoral’ para o prefeito Luciano Almeida (PP). Com a apuração finalizada e publicada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em Piracicaba às 19h50 deste domingo, dia 6, o candidato a reeleição teve magros 2,46% da preferência dos eleitores. Em número absoluto, Luciano conseguiu apenas 5.017 votos. No comparativo com o segundo turno do pleito que o elegeu, seu eleitorado diminuiu vertiginosamente em 80.064 – ficando apenas com 5,89% frente a 2020. O fato é que a rejeição ao prefeito foi cravada em várias pesquisas – a última antes do domingo, da Colectta, indicava quase 30%. Em artigo para a SciELO - Scientific Electronic Library Online, o especialista em administração pública Pedro Cavalcante tenta responder à pergunta: vale a pena ser um bom prefeito? Ele analisa e dá respostas sobre o comportamento eleitoral e a reeleição no Brasil e ajuda a entender como se deu o efeito da derrocada de Luciano.

“(...) a margem do prefeito na eleição anterior, que pode ser considerada como um proxy do seu ‘patrimônio político’, é um fator que possui um impacto estatisticamente significativo na reeleição. Em termos substantivos, cada 10% de diferença em relação ao segundo colocado no último pleito refletem em incremento de 1,6% nas chances do prefeito.” Neste quesito, Luciano falhou miseravelmente ao perder quase 95% dos seus eleitores. Mas então o que fez o prefeito ser abandonado politicamente?

Mesmo para o eleitor que não acompanha efetivamente o cenário político, Cavalcante aponta uma ênfase na racionalidade como caráter instrumental na hora da decisão do voto. Ele se refere à capacidade do cidadão em reconhecer seus interesses e votar naqueles que melhor convergem com seus objetivos e crenças. “O eleitor se importa com a capacidade da política em gerar os benefícios esperados; em caso de bons resultados na economia, aumentam-se as chances da situação, enquanto as chances da oposição tendem a se elevar na medida em que o governo não apresenta bons desempenhos no campo econômico. Em suma, prevalece uma tendência a votar com base nos efeitos da economia no bolso dos cidadãos.”

Mas não é só isso. “(...) a mensagem das urnas gera incentivos positivos para que os políticos tomem decisões voltadas para o bom desempenho das contas públicas e, por conseguinte, das políticas públicas.” Em 2023, o prefeito fechou o ano com excedente de caixa próximo a R$ 500 milhões, provocando precarização direta no dia a dia da cidade com as maiores verbas paradas nas áreas de urbanismo, saúde, saneamento, educação e gestão ambiental.

Sobre a pergunta central se o eleitor pune ou premia bons prefeitos, o especialista conclui que uma boa gestão é perceptível pelo eleitorado municipal. “(...) o desempenho fiscal dos prefeitos importa nas tentativas de reeleição. Portanto, é possível confirmar a hipótese de que o eleitor brasileiro premia políticos com bons desempenhos, reelegendo-os, quando se analisam os efeitos da administração orçamentário-financeira."

MANIFESTAÇÃO

O prefeito Luciano se manifestou publicamente por meio de suas redes sociais nesta segunda, dia 7. “Vendo o resultado das eleições 2024, vejo que falhei em não conseguir conquistar o coração das pessoas. Que não fui hábil e humilde para entender que fazer o certo e da forma certa não é o suficiente para ganhar uma eleição. Ter recordes na geração de emprego e renda, investir em educação, transporte público de qualidade, melhor cidade em segurança acima de 200 mil habitantes, maior investimento na recuperação asfáltica da nossa história, iluminação pública, sem papel... Nada disso importa. Sempre pautei minhas decisões pela ética, princípios e honestidade. Enfrentei o sistema, empresas prestadoras de serviço que não entregavam, gente mal-acostumada, na base do jeitinho. E tantas outras coisas. Não foi fácil chegar até aqui. Custou caro e vejo agora o resultado dessas escolhas. Não me arrependo e nunca mudaria esta forma de ser. Talvez sorrisse um pouco mais... Espero, para o bem de Piracicaba, que o próximo gestor seja correto e honesto. Pois, sem estes princípios, o legado que estamos deixando vai se perder. Piracicaba, talvez, ainda não esteja preparada para políticos honestos.”

Postar um comentário

Mantenha o respeito e se atenha ao debate de ideias.

Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de contato