Estudantes protestaram e foram recebidos pelo prefeito do campus (foto/crédito: TV Metropolitana de Piracicaba) |
A terceirização deixou a fome atingir novamente estudantes da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo), que ficaram sem almoço e jantar subsidiados nesta quinta, dia 28, no restaurante universitário. Foram constatados problemas sanitários graves, incluindo a presença de fungos nos alimentos servidos, informou o estudante de economia Kalil Rocil Pelarigo – e não é a primeira vez que este tipo de problema acontece. A decisão afetou diretamente a comunidade estudantil, com exceção dos moradores da Moradia Estudantil e Vila Estudantil, que tiveram refeições asseguradas. O problema vem desde 2022 e novamente “os estudantes estão famintos e desamparados, e tudo isso na maior faculdade de Ciências Agrárias da América Latina”, relatou um outro estudante à redação – um protesto também aconteceu nesta quinta no prédio central da escola. A principal reivindicação dos estudantes é acabar com o serviço de alimentação contratada ‘por fora’, junto a empresas do ramo. Conforme o portal de licitações da USP, o último contrato para Piracicaba foi fechado em julho de 2023 por R$ 4,25 milhões com a Alimentare Nutrição e Serviços para fornecer um total de 1.815 marmitas por dia, incluindo sábado.
“Os estudantes da Esalq, graduação e pós, foram surpreendidos agora, no horário do almoço. A empresa terceirizada que estava servindo marmitas anunciou no ato que não servirá nem almoço nem jantar hoje”, informou Gabriel Colombo, agrônomo formado pela Esalq. “A nova empresa que assumiu o restaurante universitário simplesmente disse que não conseguira servir as refeições. Os estudantes estão sem comida. Foi avisado em cima da hora, enquanto os alunos já faziam uma grande fila do bandejão”, reportou um dos alunos que estavam no local.
Segundo Pelarigo, em resposta ao incidente, o prefeito do campus Luiz de Queiroz, Luciano Mendes, declarou que a administração tomou uma medida provisória para mitigar os impactos imediatos. Um novo contrato emergencial foi firmado com outra empresa para fornecimento de marmitas aos estudantes, enquanto o restaurante passa por um processo de reestruturação e remoção da empresa terceirizada responsável pela contaminação.
"Hoje [quinta-feira], pudemos conversar de maneira franca com o prefeito, e explicar que a participação deles nesse movimento não é só bem-vinda, mas também necessária. O prefeito se mostrou aberto, e já foi avisado que se houver outros atos não é para levar como uma crítica à prefeitura e/ou agir com repressão, mas acatar que essa é nossa demanda e não vamos recuar." A reestatização do restaurante universitário é vista como uma solução duradoura para garantir maior controle e segurança alimentar. Na semana do próximo dia 15, o prefeito do campus se comprometeu a realizar reunião com os estudantes e a comunidade pede participação de todos.
A situação é um tanto controversa diante da finalidade dos estudos e qualidade acadêmica da escola. Recentemente, ranking publicado em setembro pela Universidade Nacional de Taiwan apresenta a USP como a 68ª colocada na listagem mundial, sendo a primeira entre as instituições ibero-americanas e a única brasileira entre as 100 melhores. Das áreas de conhecimento, a Agricultura, oferecida na Esalq, é a mais bem colocada: 9º lugar no mundo. Bom lembrar que a escola tem curso de Ciências dos Alimentos.
A redação procurou a assessoria de imprensa da Esalq, que pediu para questionar a Prefeitura do Campus Luiz de Queiroz, mas nenhum esclarecimento foi prestado. Também foi questionada a terceirizada Alimentare, que só respondeu à reportagem nesta segunda, dia 2. "Informo que o nosso contrato com a USP encerrou em 01/10/2024 e desde então não nos responsabilizamos mais pelos problemas relacionados ao restaurante universitário em questão", disse, por e-mail, Caroline Soldi, da Controladoria da Alimentare.
HISTÓRICO DA FOME
O problema com o fornecimento de refeições na Esalq começou junto com a terceirização do serviço. Da pandemia de covid-19 para cá, o restaurante universitário tem sido alvo de críticas constantes. Em 2022, a responsável teve problemas financeiros e desistiu do contrato sem entregar reformas previstas – a última manutenção até então tinha sido em 2016, mesmo ano em que o restaurante passou a operar em sistema terceirizado. Uma nova empresa foi contratada de forma emergencial especificamente para atender alunos com poucos recursos, previamente cadastrados em avaliação socioeconômica – e sim, na Esalq existem alunos de baixa renda e que dependem de refeição subsidiada, com auxílio da máquina gigante do Governo do Estado de São Paulo.
Em 2022, o espaço passou por uma nova reforma e, na época, o prefeito do campus, Roberto Arruda de Souza Lima, falou sobre a importância da alimentação na vida escolar. “Dentre as políticas de permanência estudantil, o restaurante universitário ocupa papel central. A manutenção ininterrupta do fornecimento de refeições permite que os alunos possam desenvolver suas atividades acadêmicas na universidade, contribuindo para sua formação integral e reduzindo a evasão.”