Vinte e um animais de grande porte, a maioria cavalos, resgatados por maus-tratos pelo Disk Animais e sob a responsabilidade da prefeitura, estão sob más condições de vida em área no Jupiá. A denúncia foi feita pelo vereador e ex-presidente da Câmara, Wagnão Oliveira (PSD), na sessão camarária da última quinta, dia 20, apontando para um crime da administração pública contra o direito dos animais – veja vídeo abaixo. Visivelmente indignado, o parlamentar relatou que “hoje [dia 20] tinham só dois sacos de ração, sem feno, sem lugar adequado [para repouso]”. “As baias trazidas da zoonose [para o Departamento de Bem-Estar Animal] não têm cobertura”. A vereadora Alessandra Bellucci (AVA), de bandeira em prol dos animais e da base governista de Helinho Zanatta (PSD), confirmou a situação de fome na mesma sessão. Ela diz ter avisado ao secretário de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente, Maurício Perissinotto, que a ração vai demorar para chegar e que, realmente, os animais ficarão sem alimentação. O contexto também envolve questões de saúde pública e precarização dos trabalhadores.
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Baia com cobertura frágil e de pouco efeito térmico de 2024 já está destelhada conforme vídeo de vereador (foto/crédito: Prefeitura de Piracicaba) |
Houve certa ‘confusão’ por parte do vereador Zezinho Pereira (UB) ao tentar defender o secretário de Meio Ambiente. O parlamentar citou haver uma contratação emergencial para compra de ração e que o estoque atual atenderia a necessidade pelos próximos dez dias – na verdade, há uma licitação não-emergencial com pregão finalizado dia 6 de fevereiro, mas que ainda não foi homologado pela Procuradoria e, portanto, o fornecimento ainda não está acontecendo.
Pelo site da Bolsa Nacional de Compras, o pregão eletrônico 03/2025 ainda continuava recebendo ontem, dia 24, documentos complementares dos vencedores da disputa e este pode ser o motivo do processo burocrático não ter finalizado e o negócio não ser efetivado. Portanto, as informações de Zezinho e de Wagnão, sobre o cancelamento da licitação para as rações, não se comprovam, mas sim uma grande lacuna de tempo entre o pregão e a entrega final. O edital teve previsão de custo aos R$ 226,37 mil – uma merreca diante do caixa da prefeitura aos R$ 3,3 bilhões.
Muitas versões.
De pronto, Zezinho Pereira foi contestado sobre o estoque de alimentos por Alessandra Bellucci, que ainda informou estar envolvida em uma força tarefa para arrecadação de ração e feno, mas também defendeu Perissinotto. Ela também apontou problemas com a fiscalização da prefeitura.
“Inclusive, ontem [dia 19], estávamos procurando pessoas para doarem feno e ração. [Sobre] Todos os problemas com a causa animal, eu não faço requerimento, resolvo com conversas. Tudo o que está acontecendo no zoológico, Disk Animais e ao bem-estar animal, levo diretamente para o secretário. Só não consegui marcar uma reunião que seria hoje [dia 20]. Quero falar de maus-tratos porque não está sendo feita essa averiguação através do 156. Tudo o que está acontecendo é reportado ao secretário. O que pode estar acontecendo é que nem tudo está chegando ao secretário pela coordenação do Bem-Estar Animal”, disse Bellucci.
Wagnão, que levou o assunto ao plenário naquela noite, mencionou que o secretário de Meio Ambiente se encontrava presente na Casa de Leis. “Se o secretário estiver aqui, peço licença para o presidente [pastor Relinho, PSDB] e vou agora com ele lá [no Departamento de Bem-Estar] para ver se tem ração para 10 dias.” Entretanto, Maurício Perissinotto não ‘deu as caras’ durante a sessão e Zezinho não se manifestou mais sobre o assunto.
Desumano e ‘desanimal’.
O vereador Wagnão rotulou a situação por desumana. “Poderia colocar no dicionário: ‘desanimal’”, sugeriu quanto à situação dos resgatados pelo Disk Animais. As condições de abrigo das baias é um problema já detectado na gestão Luciano Almeida (PP). As estruturas são vazadas, e, conforme vídeo, o telhado frágil existente no ano passado não está mais lá e há um galpão no local que poderia ser usado como estábulo, mas está em ruínas. “O barracão onde poderia abrigar os animais está interditado porque está correndo o risco de desabar. Tem 21 animais dentro daquele local [se referindo à área no Jupiá]. Os animais ficam no sol, na chuva, no vento, no frio”, disse o correligionário de Helinho – Wagnão também voltou a reclamar da atual gestão dizendo estar esperando há mais de 30 dias por uma agenda com o prefeito.
Wagnão também relatou recebimento de animais mortos pelo Departamento de Bem-Estar. “Os terceirizados que estão lá saem para a rua para pegar animais mortos, capivara, cavalo, aves, e sem EPI [equipamento de proteção individual]. (...) Estão levando animal morto para lá. Isso não é brincadeira, é questão de saúde pública.” Ele também relatou que funcionários terceirizados estão se desdobrando com a situação dos animais. “’Meninos’ da terceirizada estão indo cortar mato porque não tem comida lá. Eu ia fazer um boletim de ocorrência”. Ele sugeriu levar animais em posse da prefeitura para seu sítio particular como solução temporária. “Eu cuido até que possa fazer um lugar digno”, finalizou.
Sem respostas.
Como já aconteceu com a gestão passada, a atual administração pública também não presta esclarecimentos à imprensa. A prefeitura de Helinho foi questionada sobre a falta de alimentação, más condições das baias e do galpão, precarização do trabalhador e recolhimento de animais mortos. Na mesma sessão de quinta última, a vereança aprovou o requerimento Nº 157/2025 de autoria de Wagnão com perguntas ao Executivo sobre o assunto – a prefeitura tem 15 dias para dar as respostas.
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