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No Mês das Mulheres, reportagem especial reúne dados do feminicídio na cidade (foto/crédito: iStock) |
Dezoito mulheres foram vítimas de feminicídio nos últimos dez anos em Piracicaba. Entre 2015 e 2025, o perfil da maioria das assassinadas é de cútis branca, foram alvos de armas brancas, como faca, e mortas em locais privativos (residência, casa, apartamento e quarto de hospedagem). Os números são da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, na base de dados SP Vida. No Mês das Mulheres – celebrado pelo 8 de Março – o governador Tarcísio de Freitas (REP) anunciou o funcionamento 24 horas da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) no município, mas, conforme a assessoria, não há data para implantar o serviço em local próprio e adequado, gerando uma espera de um ano e meio.
O ano de 2023 foi o mais fatal, fechando o período com cinco vítimas de crimes por violência doméstica. No ano passado, mostrando uma onda crescente, a estatística poderia ser pior: foram oito tentativas de feminicídio e seis falharam – com duas consumadas. Duas das oito resultaram em penas aumentadas em um terço porque foram executadas na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima, como mãe ou filho.
Pela precariedade do acesso à informação do Estado (veja mais abaixo), lei um tanto quanto recente e segurança pública de viés machista e misógina na ponta do atendimento, também é de se colocar em dúvida números baixos e até uma real escalada de meninas e mulheres mortas na cidade. A exemplo da vereadora Madalena Leite, primeira travesti eleita em Piracicaba e que se identificava claramente como mulher, teve seu assassinato registrado como homicídio simples.
A pena máxima para homicídio doloso contra mulheres aumentou de 20 para 40 anos por meio de lei sancionada em outubro de 2024 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Conforme definição da Agência Senado, o crime de feminicídio é o assassinato de mulheres em contexto de violência doméstica ou de gênero. Este tipo de homicídio é considerado hediondo, um termo jurídico que se refere ao que causa repulsa.
O perfil das mulheres assassinadas e crimes.
Em Piracicaba, entre abril de 2015 e janeiro de 2025, das 18 vítimas, dez eram de cútis branca, seis pardas e duas negras. A maioria delas, nove no total, tinham idades entre 29 e 39 anos, e outras seis na faixa dos 41 e 56 anos – apenas uma era menor, morta aos 16 anos, assassinada na residência em 2019 por enforcamento. A extração destes dados é complexa, em duas tabelas formatos Excel e não é facilitada pelo Estado na interface do Power Bi, plataforma especializada em visualização de dados e disponível via governo – demonstrando pouco interesse político pelo assunto.
Tanto que só a partir de 2023, o SP Vidas começou a registrar o meio utilizado para matar mulheres. Em Piracicaba, entre as tentativas e mortes, dos 13 episódios, na maioria deles, oito ao total, foram utilizados objetos cortante, penetrante ou contundente, as ditas armas brancas como faca ou até mesmo garrafa quebrada.
Lucas Ferreira Lima, pós-graduado em Gestão de Investigação Criminal da Academia de Polícia do Rio Grande do Sul contextualizou o modus operandi com arma branca em entrevista para o Zero Hora em 2021.
“Os ferimentos são causados por objetos que estão ao redor, no ambiente do crime. Uma faca da cozinha, uma ferramenta, fios, qualquer objeto que esteja a mão. O fato de o agressor não ter arma de fogo não impede que o crime ocorra. E, diferentemente de outros tipos de homicídios, onde só se usa arma de fogo ou só arma branca, no feminicídio é usado mais de um tipo de ação. Começa com uma agressão e segue. A não utilização de veneno ou de outro método que precisaria de uma premeditação, mostra que é tudo no calor da emoção, o agressor age quando atinge um ápice.”
Quanto aos outros casos de feminicídio nos últimos três anos na cidade foram registrados dois episódios de uso de arma de fogo; um por enforcamento, estrangulamento e sufocação; um por fumaça, pelo fogo e por chamas; e outro por meios não especificados.
Nova DDM em passos de tartaruga.
Mesmo com emenda de R$ 7,6 milhões liberada pelo deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT) e terreno de 1.550,38m² doado pela prefeitura ao Estado em setembro de 2023, a construção da sede da Delegacia da Mulher não tem previsão para início das obras – atualmente, o serviço está instalado em prédio alugado e precário no Centro da cidade e a área nas mãos do Estado fica na Rua Santa Catarina, esquina com a avenida Professor Alberto Vollet Sachs, no Nova América.
“A criação de uma nova unidade da DDM em Piracicaba está em curso, tendo sido concluído o projeto estrutural da obra. As outras etapas estão em andamento”, informou à reportagem a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança do Estado. A mesma Pasta foi questionada sobre quais seriam as “outras etapas” e a data estimada para o lançamento do edital para construção, mas nenhum esclarecimento foi prestado.
Conforme o site Metrópoles, o governador Tarcísio congelou, no início deste ano, 96% do orçamento de combate à violência contra mulher – dos R$ 26 milhões, o carioca deixou apenas R$ 900 mil. Segundo a assessoria do Estado, “o contingenciamento é uma medida de gestão responsável, realizada periodicamente com base na análise do comportamento das receitas e despesas públicas”. “A cada bimestre é feita a reavaliação podendo ser descontingenciado sem afetar o equilíbrio fiscal.” Entretanto, a sede da DDM tem grana em caixa e terreno doado, mas, mesmo assim, nada andou de 2023 para cá.
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